sábado, 12 de novembro de 2011

A vingança do chinês

A vingança do chinês, José Ribeiro |

editorial do Jornal de Angola

06 de Novembro, 2011

A China está a injectar milhares de milhões de dólares na Zona Euro para salvar a Europa da crise financeira em que mergulhou. Pequim está a aceitar tomar medidas para desvalorizar a sua moeda, o yuan.

As medidas tomadas pela China são consideradas muito boas pelos Estados Unidos e a Europa, dois continentes em dificuldades evidentes de recuperar do buraco aberto por Wall Street em Setembro de 2008. Na verdade, o que a China está a fazer é ajudar a estimular o crescimento económico ocidental, a evitar o contágio progressivo da crise do euro e a travar o perigo de uma recessão mundial.

A entrada em força da China na economia ocidental é algo há muito conhecido, apenas ficou clarificado na reunião do G-20 desta semana em Cannes. Agora o mundo sabe que a estratégia chinesa atingiu uma nova dimensão.

Os chineses estão a salvar o mundo da falência. Os chineses estão a dar dinheiro fresco e um exemplo de solidariedade ao mundo ocidental. Os fundos de que a China dispõe em grandes quantidades e está a pôr nas instituições financeiras, são necessários para que os grandes bancos e as economias ocidentais tenham dinheiro suficiente até para que os Estados europeus paguem os salários aos seus funcionários. Sem o dinheiro da China, países inteiros da Zona Euro corriam o risco da bancarrota, o contágio podia alastrar-se, o euro desaparecer e os mercados internacionais serem gravemente afectados.

O que os chineses estão a fazer pelas democracias e a qualidade de vida do Ocidente, é qualquer coisa de notável, pois o problema do desemprego é tão grave hoje que o responsável máximo da Organização Mundial do Trabalho (OIT) já avisou que se não forem tomadas medidas urgentes e inteligentes, o mundo fica à beira de uma catástrofe humanitária.

O interessante a acentuar nesta história é que os chineses estão a emprestar montantes colossais de dinheiro sem imporem condições, muito menos as políticas que a Europa e os Estados Unidos exigem a países como Angola para concederem os empréstimos de que tanto necessitam.

Se o mundo fosse justo e coerente, aos países da Europa seria agora exigido que acabassem com a corrupção generalizada que a crise destapou e obrigassem os governos e organismos nacionais a respeitarem as boas práticas de gestão e transparência.

A China não é, afinal, o “papão” que coloniza o continente africano, como afirma a propaganda do Norte. Basta olhar para a cooperação com Angola, onde os chineses fizeram em pouco tempo obras gigantescas, que se fossem executadas por outros, podiam levar décadas a concluir. Os fundos da Reconstrução Nacional são o mais belo emblema da solidariedade da China para com Angola.

Se a China fosse o demónio que os Media ocidentais costumam pintar, seria agora o “papão” do Ocidente. O facto é que nas duas últimas décadas, as sucessivas administrações americanas venderam a Pequim a enorme dívida americana. Foram tão bem sucedidos que agora a capital chinesa é uma espécie de casa de penhores, onde as grandes potências ocidentais empenham os seus anéis em troca de dinheiro.

Ainda assim, os dirigentes ocidentais premeiam os dissidentes chineses com o Nobel, criticam Pequim por causa do Tibete e de Taiwan. Os chineses respondem com a infinita paciência oriental e ainda lhes dão dinheiro para os salvar da bancarrota.

A lição que se tira é que, realmente, o dinheiro “não tem partido”, mas ao que parece tem pernas e foge para onde lhe dão o devido valor. Por isso, a China está a transbordar de liquidez e os ocidentais vão a Pequim pedir dinheiro aos “comunistas”.

Ninguém alguma vez ia imaginar que os fundamentalistas do capitalismo um dia se iam abastecer de dinheiro dos “comunistas” chineses.

A vingança do chinês é uma bela lição de dignidade.